Por Alenilton Malta | De cara com as feras
Sábado 22/04/2023
Corpo de Leandro Leite Carvalho, de 29 anos, foi encontrado 16 dias depois, na última quinta-feira; sepultamento será neste domingo
A família do paraquedista e produtor de conteúdo Leandro Leite Carvalho, de 29 anos, viveu um pesadelo que durou 16 dias. Em 6 de abril, ele saiu de casa para um luau na Praia do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, e não voltou mais. Começava uma procura que só terminou mais de duas semanas depois, quando o corpo dele foi localizado pelos bombeiros na Restinga de Marambaia, também na Zona Oeste, na última quinta-feira.
— Eu vejo isso o tempo todo na televisão. A gente só se dá conta quando acontece com a gente. É inadmissível alguém sair para ir à praia e não voltar. A gente está tentando encontrar forças. Ele era um cara de bem, trabalhador, estudava para concurso, produzia conteúdo. É muito revoltante — desabafa Rafael Leite de Assis, de 34 anos, irmão de Leandro.
No registro de ocorrência do desaparecimento, feito na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) consta que Leandro, que também trabalhava como vigilante, estava com dois amigos quando bandidos armados se aproximaram. Eles teriam confundido o paraquedista com um miliciano. Ao reparar que os homens começaram a agir de maneira estranha, Leandro, que tem porte de arma, teria pedido para que seus amigos pegassem uma pistola em seu carro. Ao retornarem e entregarem para ele, os bandidos perceberam e efetuaram os disparos na direção dos três. Segundo o registro, Leandro não resistiu e morreu. Uma das balas atingiu também um dos amigos.
Segundo relatos de pessoas que estavam no local, para se livrarem do corpo do paraquedista, os bandidos o colocaram em uma prancha de surf e a jogaram no mar.
Rafael contou que o irmão, que deixou um filho de 3 anos, foi ao luau para produzir vídeos — produzir conteúdos para as redes sociais era uma das paixões de Leandro:
— Ele tinha publicado um (vídeo) antes que viralizou, chegou a um milhão de visualizações. Estava feliz. No canal dele, ele mostrava o cotidiano de uma forma engraçada.
Outra vontade do paraquedista era tentar passar num concurso público.
— Ele queria fazer a prova para a Polícia Militar, já tinha pago um curso preparatório. No computador dele, a gente vê um monte de documentos e coisas de concurso, ele era muito dedicado ao que gostava — disse Rafael.
Os irmãos gravaram alguns vídeos juntos. O último foi lembrado com emoção por Rafael.
— No último vídeo que eu fiz com ele lá em casa, foi sobre implicâncias entre irmãos. Eu pegava o controle remoto dele, e ele “dormindo”, dizia que estava assistindo à TV só para não me dar o controle, essas brincadeiras de irmão. Ele já estava ganhando reconhecimento, conseguido parcerias — relembrou. — É revoltante. Nós, negros, já temos poucas oportunidades, quando a gente consegue alguma coisa, vidas são ceifadas pela violência. Desde o tempo da escravidão a gente foi ensinado a sobreviver e não a viver — disse.
O corpo do jovem será sepultado neste domingo, às 14h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste da capital.